Quando (e como) Fischer se revelou Fischer

D. Byrne x R.J. Fischer
New York, 1956
Posição após 17. Rf1

Meninos prodígio sempre chamam bastante atenção, seja na música, matemática ou xadrez. Em 1956, Robert James (Bobby) Fischer ainda era somente um garoto de 13 anos de idade quando começou a ser conhecido mundo afora por causa do seu talento enxadrístico. Donald Byrne foi campeão norte-americano em 1953 e mestre internacional de xadrez. Quando se sentou para enfrentar Fischer, o campeão juvenil norte-americano em 1956, Byrne dificilmente poderia imaginar a dimensão que aquela partida tomaria.

A posição acima está prestes a revelar o ápice duma brilhante série de jogadas que se iniciou com 11. … Ca4!, a partir da qual já se escreveu: “As próximas 7 jogadas geraram uma das mais fantásticas sequências já registradas em toda a história do xadrez.” (J. Nunn e W.H. Cozens, em The king hunt, 1996).


A partir do diagrama, o ponto alto é a entrega da Dama com 17. … Be6!!. A Dama é uma peça tão poderosa no xadrez, que é sempre interessante ver quando ela é sacrificada. Principalmente quando a vitória do bando que oferta o sacrifício só vem muitos lances depois. Neste caso, Fischer trocou sua Dama por 2 Bispos, 1 Torre e 1 Peão, o que é materialmente suficiente para vencer, mas exige uma técnica apurada.

A mágica cena dum menino vencendo um experimentado mestre com tamanha técnica e visão, aliada à beleza dos lances, fez com que esta partida fosse rapidamente aclamada como ‘A partida do século’. Curiosamente, ela não aparece no famoso livro My 60 memorable games, a obra prima escrita por Fischer em 1969.

Uma linha interessante resultaria a partir do sacrifício da Dama, caso fosse recusado, pois poderia surgir um belo mate de Philidor em caso de 18. Bxe6? Db5 19. Bc4 Dxc4+ 20. Rg1 Ce2 21. Rf1 Cg3+ 22. Rg1 Df1+ 23. Txf1 Ce2#.

Toda a combinação que começa no 11º lance negro envolve o sacrifício de um cavalo em a4 (recusado), o sacrifício da qualidade em f8 (recusado) e, enfim, o sacrifício da Dama em b6 que, pela linha mostrada acima, o Branco foi forçado a aceitar.

A partida continuou por mais 24 lances. O menino Fischer não deu mais nenhuma chance. O mestre Byrne, talvez intuindo que naquele momento entrava para a história do xadrez (infelizmente da mesma forma que Kieseritzky), não exerceu seu direito de abandonar a partida e permitiu que ela seguisse até o mate com 41. … Tc2#.
Posição final após 41. … Tc2#.

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