A maestria no xadrez em meados do século XX

A maestria no xadrez, sem dúvida, é um grande atrativo para todos os seus praticantes. Seja pela vontade de um dia dominar os mais importantes elementos do jogo, seja pelo fascínio que os grandes mestres exercem sobre os jogadores menos fortes.
Antes de a FIDE criar os títulos oficiais de Mestre Internacional (MI) e Grande Mestre Internacional (GMI, ou só GM) em 1949, ou mesmo de Mestre FIDE (MF) em 1978, os jogadores tinham somente seus nomes, sua reputação, como mestres do jogo.
MI Edward Lasker (fonte: wikipedia)
O MI Edward Lasker (1885-1981) descreveu em seu livro The Adventures of Chess (1ª edição em 1949) as qualidades que os mestres de xadrez deveriam ter, com base em estudos feitos por psicólogos envolvendo mestres e amadores1:
  1. Elevado grau de inteligência, apesar de não necessariamente ter o mesmo grau de cultura. Um forte enxadrista pode ter muito pouca cultura. Pode até mesmo não saber ler ou escrever; mas jamais será um estúpido.
  2. A capacidade de pensar objetivamente. A presença de um oponente que entenda toda a lógica rigorosa das relações existentes no tabuleiro deixa pouco espaço para a arbitrariedade, para o julgamento subjetivo.
  3. A capacidade de pensamento abstrato. Fazer generalizações corretas, baseadas na experiência colhida em anos de prática, produzem o chamado “instinto posicional” de um mestre de xadrez que lhe permite inferir o melhor lance em situações nas quais o cálculo exato é impossível.
  4. A capacidade de distribuir a atenção sobre diferentes fatores, como os que estão sempre envolvidos em uma “combinação”. Isto evita deixar de ver certos lances importantes, que é a maior fraqueza da maioria dos amadores.
  5. Uma vontade disciplinada capaz de forçar a velocidade e concentração do processo de pensamento, sempre que necessário, muito além de sua capacidade normal.
  6. Bons nervos e auto-controle. Um jogador que não pode disciplinar suas emoções ficará desmoralizado e jogará muito abaixo de sua força real. Um mestre de xadrez deve ser capaz de se manter sob controle quando nos apuros de tempo. Se cometer um erro que o faça perder uma partida ganha, ele deve assimilar calmamente a derrota e seguir adiante.
  7. Auto-confiança. Um mestre de xadrez deve ter confiança em seu julgamento posicional, já que a análise detalhada de todas as variantes raramente é possível.
Além desse 7 itens, ele ainda comenta ser necessário:
  1. Perfeição técnica. Isto exige uma grande quantidade de prática desde tenra idade. São necessários anos de estudo para assimilar o que os mestres de xadrez do passado descobriram, e para acompanhar a crescente massa de análise contemporânea de aberturas.
  2. Boa forma física é boa saúde. O estado de saúde de um mestre sempre afeta sua pontuação em um torneio. Ele deve ter disposição física para manter a cabeça limpa nas muitas horas de uma sessão de jogo (na época uma partida podia durar várias sessões de jogo de 4 a 5 horas cada).
  3. Enfrentar adversários de força superior. Deve-se praticar contra os jogadores mais fortes. Isto coloca em desvantagem lamentável jogadores que têm pouca ou nenhuma oportunidade de passar bastante tempo nas cidades em que os jogadores mais fortes se encontram (hoje em dia, com a internet, essa dificuldade é muito reduzida).
    1 Tradução livre e adaptada de trechos do Capítulo VI – Chess Mentality, da 2ª Edição do livro The Adventures of Chess, do MI Edward Lasker, pela Dover Publications, 1950.

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