Raffael Chess: canal exponencial!

Na primeira vez que vi um vídeo no canal Raffael Chess, dedicado ao xadrez, ele tinha pouco mais de mil inscritos. Alguns poucos dias depois, quando o convidei para participar desta série de entrevistas, já tinha quase 5 mil. Nos poucos dias até eu enviar as perguntas, 10 mil e quando as repostas chegaram 18 mil inscritos!

Hoje, enquanto escrevo estas linhas e edito esta postagem do LQI, Raffael já caminha firme para os 25 mil. É um crescimento exponencial!

Para quem assiste seus vídeos, não é difícil entender. Ele tem um jeito carismático e sincero de falar do jogo, seja quando comenta suas partidas, muitas vezes enquanto as joga na internet, ou quando analisa uma partida de mestres, quando partilha seu conhecimento sobre o jogo com milhares de aficionados.

Gentilmente, ele aceitou responder a algumas perguntas do LQI sobre ele e seu trabalho no YouTube.

1) Raffael, fale um pouco sobre você, em especial aquilo que não tem a ver com xadrez. Bom eu sou gaúcho, moro na região metropolitana de Porto Alegre e tenho 35 anos. Gosto de tocar a minha gaita (acordeom) nos finais de semana e comer um bom churrasco. Sou casado há 10 anos com minha esposa Jenifer, sou um cara caseiro. Minha formação é técnico eletrônico industrial e trabalho nessa área há 15 anos.

2) Você conhecia o blog Lances Quase Inocentes (LQI)? Na verdade, eu não tinha conhecimento do blog, mas olhei algumas postagens recentemente e achei bem interessante. Por sinal, parabéns pelo belo trabalho! Estou certo que passarei a acompanhar os conteúdos.

3) Como você aprendeu xadrez e como esse jogo se tornou importante na sua vida? Tudo começou com o meu pai, Roberto Bairros. Quando receberam o primeiro soldo do exército, ele e um amigo fizeram uma vaquinha e compraram em um sebo um livro de xadrez. Era de bolso, mas tinha mais de duzentas páginas e ensinava todas as fases do jogo. Compraram também um pequeno tabuleiro e passaram a treinar. Aquele foi o primeiro livro de vários. Foi assim que ele trouxe o esporte para a família. Quando eu tinha 7 anos, ele me apresentou os movimentos das peças, as regras e noções do jogo. E isso mudou a minha vida. Eu me tornei um curioso pela literatura enxadrística e aproveitei que nós sempre tivemos muitos livros de xadrez em casa. Isso me ajudou durante toda essa trajetória em busca da melhoria do meu jogo. Desde o momento em que aprendi a jogar, soube que xadrez não era um simples jogo para mim. Passei a usar o meu tempo livre para esse esporte. Sempre gostei da parte estratégica e criativa do jogo. Após alguns anos, ficou ainda melhor. O xadrez passou a ser um hobby, ou seja, uma atividade muito prazerosa e divertida que eu tenho certeza que levarei por toda a minha vida. É o que ainda faço hoje, e é por isso que tenho um canal de xadrez. O tempo que passo com essa atividade é extremamente agradável e recompensador para mim. Vou continuar jogando e difundindo o amor por esse esporte, sempre que puder, assim como meu pai começou.

4) Você compete ou competiu regularmente em torneios ao vivo, ou prefere eventos e partidas online? Na realidade as duas coisas. Eu já competi muito em torneios ao vivo aqui no Rio Grande do Sul. Eu costumava jogar vários eventos quando ainda estava no ensino médio e tinha mais tempo livre nos finais de semana. Era muito divertido. Íamos sempre em família: meu pai, Roberto, e minha mãe Alcélia. Eventualmente até a minha avó, Francisca, ia junto. Conhecemos diversas cidades aqui do estado assim. Lembro que nessa fase eu era cadastrado na FGX, que é a Federação Gaúcha de Xadrez, e tinha rating – na época, era de 2190 ou algo assim. Contudo, após alguns anos esse rating da FGX foi extinto. Após o término do ensino médio e o início das minhas atividades profissionais, infelizmente não tive mais tempo para continuar indo aos eventos. Contudo, mesmo não indo mais a torneios presenciais eu mantive contato direto com o Xadrez através dos clubes na internet, onde me mantenho ativo e sempre aprendendo mais sobre o jogo.

5) Gerar conteúdo sobre xadrez é uma tarefa árdua, pois a audiência é bastante crítica e seletiva e o retorno ao tempo dedicado costuma ser baixo. Qual tua motivação para superar essas dificuldades e ter um hoje um canal consolidado de vídeos de xadrez? Na realidade eu não acho que a tarefa seja árdua, pois eu fico realmente feliz e satisfeito quando estou criando os conteúdos do canal. Essa atividade, para mim, é extremamente prazerosa e divertida. O contato com o público do YouTube é algo que eu gosto muito. Em geral todos são muito legais e eu gosto bastante de interagir diretamente com todos através dos comentários – que eu busco responder o máximo que eu posso.

6) Você é um consumidor de livros de xadrez, ou sua geração já usa aplicativos e vídeos como principal forma de aprender sobre o jogo? Eu me sinto um felizardo por estar em uma geração que fica bem no meio entre o avanço tecnológico da internet e dos computadores e o período quando não tínhamos tudo isso. Sendo assim, a minha origem de estudante de xadrez, como eu havia mencionado, foi através dos livros. E esse é um hábito que eu gosto muito e tenho até hoje. Porém, eu não estudo mais apenas com os livros, hoje em dia eu faço uso dos benefícios da tecnologia como cursos de xadrez online e o auxílio dos programas de xadrez para estudo.

Capa do Canal no TouTube

7) Por que um canal no YouTube e não um blog? A ideia do canal no Youtube está mais ligada à dinâmica do xadrez. Ou seja, eu quero jogar ao vivo e mostrar para outros jogadores que estão começando como o jogo pode ser divertido e interessante. Quero mostrar a parte criativa, estratégica e a emoção da luta de uma partida de xadrez, que são as coisas que mais me atraem no jogo. Gosto da parte analítica do Xadrez também e dos desafios, então no canal mostro grandes partidas de xadrez e crio desafios enfrentando grandes jogadores ou engines. Acredito que esse dinamismo é mais facilmente atingido através do vídeo e por esse motivo fiz essa escolha. Contudo, também quero no futuro criar um site ou um blog para ter outra forma de abordar o assunto com os espectadores.

8) Pode deixar uma mensagem final para os seguidores do teu canal e leitores do LQI? A mensagem que eu gostaria de deixar é que o foco de quem quer jogar xadrez não deve ser ganhar, ganhar, ganhar. Mas sim buscar no jogo aquilo que atrai você. Seja a parte estratégica, tática, criativa ou artística, DIVIRTA-SE jogando xadrez, pois, a partir do momento em que você passa a se divertir jogando xadrez, você nunca irá parar e isso te levará a um dia se tornar um grande jogador.

Raffael, obrigado pelas simpáticas repostas dadas e pelo tempo dedicado em respondê-las. Grande abraço

Conheça Rafael Leite do Canal Xadrez Brasil

“Faço o que faço por paixão, não espero nada em troca”
Sorriso de quem faz o que gosta, e faz muito bem!
“Fala galerinha do xadrez!” Quem ainda não conhece essa saudação inicial está perdendo tempo! Assim são iniciados os vídeos do canal Brasil Xadrez no Youtube, sempre na voz de seu criador Rafael leite.
Rafael conseguiu criar o maior canal de xadrez do Brasil em número de inscritos! Alguns podem achar que é uma tarefa fácil, mas não é! Para se ter uma ideia, o canal de Rafael tem hoje mais inscritos que o canal do GM Daniel King, o Power Play, sendo que a audiência de King se estende a todo o mundo, pois seu conteúdo é em língua inglesa, enquanto que Rafael trabalha numa base de usuários bem menor, que são os falantes da língua portuguesa.
Isso é só um dos fatores que atestam a qualidade do trabalho dele! São vídeos que usam o formato de análise de partidas completas, num ritmo que algumas vezes lembra uma animada narração de futebol e, é claro, ensinam dicas valiosas das diferentes fases do jogo para as milhares de pessoas que acompanham o canal.
Rafael gentilmente reservou um tempo para responder algumas questões que nos ajudarão a entender um pouco de suas ideias e motivações, tanto no xadrez quanto na vida!
1) Rafael, fale um pouco sobre você, em especial aquilo que não tem a ver com xadrez.
Sou um cara comum. Casado, pai de uma filha, trabalhador. Sou caseiro, tranquilo, amo a vida e as pessoas. Meu sonho é construirmos um mundo bem melhor. Avante!
2) Você conhecia o blog Lances Quase Inocentes (LQI)?
Não conhecia, fiquei admirado com a qualidade do conteúdo do blog, já estou acompanhando.
 
3) Como você aprendeu xadrez e como esse jogo se tornou importante na sua vida?
Aprendi aos 5 anos de idade com meu pai e meu avô materno. Jogava com meu irmão e meu pai em casa. No entanto, acredito que eles não gostavam do tanto jogo quanto eu. Sempre pedia para jogar, mas acabávamos fazendo outras coisas. Na época não havia internet (nasci em 1982), então simplesmente coloquei essa paixão “em espera”. Somente aos 14 anos, mudei de colégio e na nova instituição havia aulas de xadrez. Por acaso, um amigo me pediu para entrar lá certo dia, pois ele tinha esquecido a mochila, entrei na sala de xadrez com ele para esperá-lo e foi assim que redescobri essa paixão. Me tornei aluno, em poucos meses já vencia o professor, e saí jogando torneios, Paulista, Brasileiro, Interclubes pela AABB, e passei a ser um frequentador ativo do CXSP (Clube de Xadrez de São Paulo). Por 3 anos, estudei em torno de 6 horas por dia. Depois veio cursinho, faculdade, namoros, acabei deixando mais uma vez o xadrez de lado. De 1 ano pra cá, a partir de 2018, resolvi tirar a paixão da gaveta e criei o canal Xadrez Brasil no YouTube, para extravasar tudo o que ficou acumulado uma vida toda. Deu certo, em menos de 5 meses eu me tornei o maior canal de Xadrez do Brasil, com mais de 50.000 inscritos. Acredito que aquilo que se faz com verdade e paixão, é percebido pelo público.
 
4) Você compete ou competiu regularmente em torneios ao vivo, ou prefere eventos e partidas online?
Entre 1997 e 1999 competi regularmente em torneios ao vivo por todo o Brasil, viajava praticamente todo mês. Há 20 anos que não participo de um torneio, mas neste ano (2019), vou jogar o Campeonato Brasileiro Amador em Junho. Não vejo a hora, é uma experiência incrível jogar torneios.
 
5) Gerar conteúdo sobre xadrez é uma tarefa árdua, pois a audiência é bastante crítica e seletiva e o retorno ao tempo dedicado costuma ser baixo. Qual tua motivação para superar essas dificuldades e ter um hoje um canal consolidado de vídeos de xadrez?
Faço o que faço por paixão, não espero nada em troca. Gosto de expor minhas análises, o contexto histórico, mostrar a evolução do jogo ao longo dos séculos, ajudar a desvendar os incríveis mistérios desta arte-ciência que é o xadrez. Gosto de explorar este mundo de beleza do xadrez, que quanto mais acompanhamos, mais enxergamos a sua grandiosidade e infinitude.
6) Você é um consumidor de livros de xadrez, ou sua geração já usa aplicativos e vídeos como principal forma de aprender sobre o jogo?
Aprendi sem internet, era debruçado em livros e tabuleiro mesmo. Sou a favor de estudar com peças e papel. Mas entendo que o mundo mudou. Hoje em dia, tudo acontece de forma mais dinâmica. Ficava sugerindo a meus amigos que queriam aprender xadrez a comprarem livros, tabuleiro e estudar. Todo mundo acha legal o plano mas acaba não fazendo, não dá tempo, não é prático. Para resolver isso, estou criando uma Academia Online de Xadrez, a Academia Xadrez Brasil, que será inaugurada em maio de 2019. Com aulas interativas online, a ideia é passar este conhecimento que existe em livros, de forma dinâmica, prática, simples e interativa. O aluno poderá aprender onde estiver, no metrô, em casa, no sítio, na praia etc, sem precisar de mais nada além de um celular, tablet ou computador.
Visão geral do canal Xadrez Brasil
7) Por que um canal no YouTube e não um blog?
Minha expressão flui mais facilmente em vídeos. Não tenho muita facilidade de extravasar tudo o que sinto de outra forma. Em vídeo, consigo ser espontâneo, mostro meus acertos, meus erros, minhas emoções, tudo de forma natural, sem passar borracha. Mas tenho vontade de ter um blog também, para uma outra forma de expressão, mais documental. O que me falta hoje para isso é tempo.
8) Pode deixar uma mensagem final para os seguidores do teu canal e os leitores do LQI?
Xadrez é encantador. Um mundo de beleza onde a arte imita a vida. Mas como tudo na vida, precisa de equilíbrio. Saiba caminhar.
Rafael, o LQI agradece pelo tempo que dedicou para responder às perguntas e te parabeniza pelo primoroso trabalho. Abraço! 
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