Sobre Torneio de Candidatos e Critérios de Desempate

O Torneio de Candidatos terminou neste 1º de abril de forma emocionante, seguindo a tendência iniciada na 12ª rodada. Os maiores favoritos, Carlsen e Kramnik, no entanto, não tiveram bom controle de seus nervos e acabaram perdendo suas partidas.

Sorte de Carlsen que Aronian não tinha mais chances, pois se tivesse vencido a Grischuk na véspera como venceu hoje a Radjabov, Aronian teria sido campeão isolado da competição (com 9 pontos) e novo Canditato ao Título Mundial! Mas acho que Aronian deve ter lido o estudo de Jeff Sonas no chessbase.com e parou de acreditar em suas chances após a 12ª rodada.

Fica uma lição (que, aliás, já é lugar comum): só acaba quando termina! Outra lição: estatística é muito bom para prever o amanhã, caso o amanhã fosse ontem, mas nunca é (ou quase nunca)!

Assim, a competição atingiu seu desfecho de forma decepcionante, decidida friamente pelos critérios de desempate. Mas deu a lógica e, acredito, trouxe o adversário que o público mais desejava ver desafiando o campeão mundial: Magnus Carlsen, o primeiro do ‘ranking’ mundial.

Mas vamos aproveitar a deixa para falar um pouco sobre critérios de desempate. Questão delicada não só no xadrez, mas em toda situação em que se tem a difícil tarefa de decidir qual é maior, 2 ou 2.

Primeiramente, é essencial que os critérios sejam conhecidos antes de iniciado o torneio, pois isso tem impacto na estratégia de cada um. Por exemplo, em Londres o número de vitórias era um critério de peso, assim poderia valer a pena arriscar mais em algumas partidas.

Mesmo assim, sempre que se utilizar um critério em detrimento de outro corre-se o risco de ser parcial. É como usar um lençol muito curto, cobre um lado e descobre o outro.

Ano passado, aqui no Brasil, isso deu muita confusão em alguns torneios realizados em Sistema Suiço, depois duma regulamentação da CBX quase obrigando os árbitros a usar sempre a mesma ordem de critérios (1. Confronto direto; 2. Número de vitórias; 3. Número de partidas com as negras…), que algumas vezes causava grande distorção.

Há, porém, uma forma de se tornar menos parcial o processo. Não é uma ideia nova, mas no xadrez eu nunca vi ser utilizada.

É algo que eu conheço da área de Reconhecimento de Padrões, da engenharia (da computação e da estatística também), na qual se utilizam programas de computador (alguns com inteligência artificial) para classificar coisas (frutas, ondas cerebrais, reservatórios subterrâneos de petróleo) com base em características numérias (padrões). Nessa área, é comum o uso de Comitês de Classificadores para chegar à classificação correta. São usados vários classificadores e a resposta final será aquela mais votada entre eles. Agora me vem uma analogia à cabeça… é como no Conclave!

Assim, no xadrez, por que não se utilizar um Comitê de Critérios de Desempate? O campeão seria aquele que vencesse na maioria dos critérios (com isso a ordem entre os critérios não teria importância).

Por exemplo, neste torneio de Londres, como ficaria um Comitê dos mesmos critérios utilizados?
  1. Confronto Direto: sem decisão (Carlsen e Kramnik empataram as duas partidas)
  2. Número de Vitórias: Carlsen
  3. Sonneborn-Berger: Kramnik (57,75 contra 56,25 de Carlsen)
Como um dos critérios não foi decisivo, um outro seria necessário. Pela regra, em caso de indecisão pelos critérios, deveriam, portanto, partir para partidas rápidas, para o delírio do público e desespero de Magnus Carlsen.

Fica a proposta para a FIDE, para a nossa CBX, e para todos aqueles clubes que realizam torneios semanais, como a ADX.