Conheça Rafael Leite do Canal Xadrez Brasil

“Faço o que faço por paixão, não espero nada em troca”
Sorriso de quem faz o que gosta, e faz muito bem!
“Fala galerinha do xadrez!” Quem ainda não conhece essa saudação inicial está perdendo tempo! Assim são iniciados os vídeos do canal Brasil Xadrez no Youtube, sempre na voz de seu criador Rafael leite.
Rafael conseguiu criar o maior canal de xadrez do Brasil em número de inscritos! Alguns podem achar que é uma tarefa fácil, mas não é! Para se ter uma ideia, o canal de Rafael tem hoje mais inscritos que o canal do GM Daniel King, o Power Play, sendo que a audiência de King se estende a todo o mundo, pois seu conteúdo é em língua inglesa, enquanto que Rafael trabalha numa base de usuários bem menor, que são os falantes da língua portuguesa.
Isso é só um dos fatores que atestam a qualidade do trabalho dele! São vídeos que usam o formato de análise de partidas completas, num ritmo que algumas vezes lembra uma animada narração de futebol e, é claro, ensinam dicas valiosas das diferentes fases do jogo para as milhares de pessoas que acompanham o canal.
Rafael gentilmente reservou um tempo para responder algumas questões que nos ajudarão a entender um pouco de suas ideias e motivações, tanto no xadrez quanto na vida!
1) Rafael, fale um pouco sobre você, em especial aquilo que não tem a ver com xadrez.
Sou um cara comum. Casado, pai de uma filha, trabalhador. Sou caseiro, tranquilo, amo a vida e as pessoas. Meu sonho é construirmos um mundo bem melhor. Avante!
2) Você conhecia o blog Lances Quase Inocentes (LQI)?
Não conhecia, fiquei admirado com a qualidade do conteúdo do blog, já estou acompanhando.
 
3) Como você aprendeu xadrez e como esse jogo se tornou importante na sua vida?
Aprendi aos 5 anos de idade com meu pai e meu avô materno. Jogava com meu irmão e meu pai em casa. No entanto, acredito que eles não gostavam do tanto jogo quanto eu. Sempre pedia para jogar, mas acabávamos fazendo outras coisas. Na época não havia internet (nasci em 1982), então simplesmente coloquei essa paixão “em espera”. Somente aos 14 anos, mudei de colégio e na nova instituição havia aulas de xadrez. Por acaso, um amigo me pediu para entrar lá certo dia, pois ele tinha esquecido a mochila, entrei na sala de xadrez com ele para esperá-lo e foi assim que redescobri essa paixão. Me tornei aluno, em poucos meses já vencia o professor, e saí jogando torneios, Paulista, Brasileiro, Interclubes pela AABB, e passei a ser um frequentador ativo do CXSP (Clube de Xadrez de São Paulo). Por 3 anos, estudei em torno de 6 horas por dia. Depois veio cursinho, faculdade, namoros, acabei deixando mais uma vez o xadrez de lado. De 1 ano pra cá, a partir de 2018, resolvi tirar a paixão da gaveta e criei o canal Xadrez Brasil no YouTube, para extravasar tudo o que ficou acumulado uma vida toda. Deu certo, em menos de 5 meses eu me tornei o maior canal de Xadrez do Brasil, com mais de 50.000 inscritos. Acredito que aquilo que se faz com verdade e paixão, é percebido pelo público.
 
4) Você compete ou competiu regularmente em torneios ao vivo, ou prefere eventos e partidas online?
Entre 1997 e 1999 competi regularmente em torneios ao vivo por todo o Brasil, viajava praticamente todo mês. Há 20 anos que não participo de um torneio, mas neste ano (2019), vou jogar o Campeonato Brasileiro Amador em Junho. Não vejo a hora, é uma experiência incrível jogar torneios.
 
5) Gerar conteúdo sobre xadrez é uma tarefa árdua, pois a audiência é bastante crítica e seletiva e o retorno ao tempo dedicado costuma ser baixo. Qual tua motivação para superar essas dificuldades e ter um hoje um canal consolidado de vídeos de xadrez?
Faço o que faço por paixão, não espero nada em troca. Gosto de expor minhas análises, o contexto histórico, mostrar a evolução do jogo ao longo dos séculos, ajudar a desvendar os incríveis mistérios desta arte-ciência que é o xadrez. Gosto de explorar este mundo de beleza do xadrez, que quanto mais acompanhamos, mais enxergamos a sua grandiosidade e infinitude.
6) Você é um consumidor de livros de xadrez, ou sua geração já usa aplicativos e vídeos como principal forma de aprender sobre o jogo?
Aprendi sem internet, era debruçado em livros e tabuleiro mesmo. Sou a favor de estudar com peças e papel. Mas entendo que o mundo mudou. Hoje em dia, tudo acontece de forma mais dinâmica. Ficava sugerindo a meus amigos que queriam aprender xadrez a comprarem livros, tabuleiro e estudar. Todo mundo acha legal o plano mas acaba não fazendo, não dá tempo, não é prático. Para resolver isso, estou criando uma Academia Online de Xadrez, a Academia Xadrez Brasil, que será inaugurada em maio de 2019. Com aulas interativas online, a ideia é passar este conhecimento que existe em livros, de forma dinâmica, prática, simples e interativa. O aluno poderá aprender onde estiver, no metrô, em casa, no sítio, na praia etc, sem precisar de mais nada além de um celular, tablet ou computador.
https://www.youtube.com/user/rafa18sp/
Visão geral do canal Xadrez Brasil
7) Por que um canal no YouTube e não um blog?
Minha expressão flui mais facilmente em vídeos. Não tenho muita facilidade de extravasar tudo o que sinto de outra forma. Em vídeo, consigo ser espontâneo, mostro meus acertos, meus erros, minhas emoções, tudo de forma natural, sem passar borracha. Mas tenho vontade de ter um blog também, para uma outra forma de expressão, mais documental. O que me falta hoje para isso é tempo.
8) Pode deixar uma mensagem final para os seguidores do teu canal e os leitores do LQI?
Xadrez é encantador. Um mundo de beleza onde a arte imita a vida. Mas como tudo na vida, precisa de equilíbrio. Saiba caminhar.
Rafael, o LQI agradece pelo tempo que dedicou para responder às perguntas e te parabeniza pelo primoroso trabalho. Abraço! 

Gambitos? Sim senhor!

Com bolo especial, Sávio comemora seu 60º aniversário!
“Xadrez, pra quem joga e pratica,
é uma paixão eterna.” Sávio Perego


Uma das pessoas mais queridas do cenário enxadrístico nacional é o Sávio Perego! Tive o prazer de conhecê-lo nas competições nacionais dos Jogos do SESI em 2012, de lá pra cá temos nos encontrado pelas redes sociais e grupos de discussão de xadrez.

Sávio sempre falava de seus queridos gambitos, aberturas exóticas que não são comuns de se encontrar em torneios pensados, mas que costumam ser um terror nas modalidades mais aceleradas (sua especialidade).
Essa paixão está agora presente no YouTube, com o canal Xadrez e Gambitos by gbsalvio! Ele nos cedeu gentilmente uma franca e bem humorada entrevista.
1) Sávio, fale um pouco sobre você, em especial aquilo que não tem a ver com xadrez.

Jogo xadrez desde 1972, na febre que o jogo virou no Brasil por causa do match Fischer × Spassky, o ‘Match do Século’, considerado pela mídia em função da guerra fria, existente no mundo naquele momento.

Hoje, conto com 60 anos de idade, mas pra mim sou jovem ainda! Joguei futebol na várzea até meados do ano passado!

Tenho um casal de filhos um cientista da computação de 26 anos e uma menina de 20, que estuda medicina. Sou empresário no ramo de lentes oftálmicas.

2) Você conhecia o blog Lances Quase Inocentes (LQI)?

Conheci seu blog, LQI, devido a um torneio que jogamos juntos em 2012 em Goiânia. Competi no torneio de rápidas, fui vice-campeão, e você competiu no torneio de pensadas, torneio este a fase Nacional do Jogos das Indústrias, ou Jogos do SESI. Lá firmamos nossa amizade, e aí pude conhecer seu blog, muito bom por sinal!

3) Como você aprendeu xadrez e como esse jogo se tornou importante na sua vida?
Disse acima como comecei a jogar xadrez, devido a uma febre que virou o jogo nas escolas naquele tempo, me apaixonei de imediato! Jogo até hoje, mais online do que presencial, por causa dos afazeres sociais, família, empresa, mas agora com os filhos morando longe, aposentado, pretendo voltar a competir presencialmente. Xadrez, pra quem joga e pratica, é uma paixão eterna.

4) Você compete ou competiu regularmente em torneios ao vivo, ou prefere eventos e partidas online?
Nos anos 80 joguei bastante presencialmente, era solteiro, dava pra sair pra jogar os torneios Abertos de fim de semana, depois com o casamento, filhos, já era impossível competir, mas aí veio a Internet no inicio dos anos 90 e tudo ficou mais fácil para praticar e estudar a nossa arte.

5) Gerar conteúdo sobre xadrez é uma tarefa árdua, pois a audiência é bastante crítica e seletiva e o retorno ao tempo dedicado costuma ser baixo. Qual tua motivação para superar essas dificuldades e ter um hoje um canal consolidado de vídeos de xadrez?
Adoro xadrez e pra mim é um prazer pesquisar uma partida “bunitinha” de um gambito e fazer um vídeo com a mesma, claro devidamente analisada por mim! Sou colecionador de arquivos digitais de xadrez, tais como e-books, databases, vídeos etc. É meu hobby ficar baixando da net esses arquivos. Então, sou possuidor de boas databases de xadrez sobre diversas linhas, e mais especificamente de gambitos e linhas pouco ortodoxas. Joguei postal na net em diversos sites de 2002 a 2017, 15 anos jogando “baboseiras” das mais diversas linhas e gambitos pouco divulgados. Com essa database, são feitos, normalmente os vídeos do meus gambitos no canal. 

Comecei meu canal timidamente, até hoje com tão somente 250 inscritos ainda, mas acredito que vá crescer muito. Gerson Peres do CXOL é o meu maior incentivador desde a construção do canal até hoje. É um nicho muito pouco explorado pelos youtubers. Normalmente, pegam a partida do dia do Carlsen e analisam à exaustão. Repetem muito, muitas vezes o mesmo conteúdo. Já eu, sendo um apaixonado por linhas pouco convencionais, me enveredei por esse caminho de fazer tão somente vídeos sobre Gambitos! No meu canal dificilmente farei uma live, jogarei online e analisarei simultaneamente, que é a paixão dos “capivaras” em geral. Me pedem isso, mas serei fiel ao princípio de tão somente um vídeo por semana, de preferência gambitos. Assistir uma vídeo-aula de uma linha diferente, acho que é bastante prazerosa pra nós capivaras, penso eu!

6) Você é um consumidor de livros de xadrez, ou já se rendeu a aplicativos e vídeos como principal forma de aprender sobre o jogo?Estudei muitos livros entre 1976 a 1985, aproximadamente, que é a base teórica que tenho. Hhoje em dia gosto demais do Youtube com vídeos aulas, já não tenho “saco” pra estudar da forma antiga, livro mais o tabuleiro, prefiro ver vídeos no Youtube. E olha que se fosse pra estudar mesmo, minha biblioteca é gigante, em torno de 3 GB em e-books! Tenho uns 30 apps no smartphone, mas pra dizer a verdade não uso nenhum efetivamente.

7) Por que um canal no YouTube e não um blog?
Ter um canal no YouTube acredito ser bem mais direto ao publico, pois a visão é o principal sentido que temos, e falo isso com propriedade, pois vendo lentes oftálmicas, rs rs rs! Ver e ouvir faz com que aprendamos bem mais facilmente, e o conteúdo se fixa mais efetivamente!  Logo, logo terei um blog, ou um site mesmo, onde poderei colocar mais conteúdo, análises das linhas que terei no canal do YouTube, com os assinantes tendo a possibilidade de baixarem databases das linhas dos vídeos! 
Durante 47 anos de xadrez, até o momento, colecionei muitas coisas e quero poder compartilhar com o mundo, um pouco do que colecionei esses anos todos, antes de partir desta pra melhor.

8) Pode deixar uma mensagem final para os seguidores do teu canal e os leitores do LQI?
Gostas de xadrez agressivo? Gostas de jogar pra dar mate, se possível rapidamente? Gosta de linhas pouco convencionais? Então seus problemas acabaram, acesse Xadrez e Gambitos by gbsalvio e terás um mundo de linhas prazerosas pra se jogar em suas partidas de blitz, bullet ou mesmo rápidas!
Sávio, o LQI agradece pelo tempo que dedicou para responder às perguntas e te parabeniza por tanto amor ao jogo. Abraço! 

Um jovem em busca da maestria… na vida

“Aproveite as partidas, sorria, aprecie o jogo, e não apenas as vitórias. Tudo na vida tem um propósito.” Renan Araújo

Capa do canal do Renan no YouTube.
Renan Araújo é uma agradável surpresa da internet brasileira, com seu canal multidisciplinar no YouTube que dá grande ênfase ao xadrez! Além da análise de partidas completas, destaco o curso de finais que o Renan está preparando. Considero os finais de partida o tópico de maior importância para quem quer aprofundar sua compreensão no xadrez. A gente aprende um bocado de xadrez vendo seus vídeos e, ao ler seu blog, percebe-se que Renan é um jovem com grandes e virtuosas aspirações, com sólidas bases espirituais e científicas!
Ele cedeu gentilmente uma parte de seu tempo para responder a algumas de nossas perguntas que vão permitir conhecer um pouco mais esse jovem estudante de engenharia.
1) Renan, fale um pouco sobre você, em especial aquilo que não tem a ver com xadrez.
O Renan é um cara que gosta de ajudar as pessoas com aquilo que faz. Ele ainda tem um pouco daquela criança sonhadora e curiosa para aprender novas coisas. O xadrez é, na verdade, apenas uma das múltiplas coisas que eu aprecio. O Renan sempre gostou de números, matemática e ciência. Talvez isso tenha me levado à Engenharia. Mas também gosto muito de ler, escrever, e até ando me aventurando no humor de jogos de improviso ultimamente rsrs. Mas acima de tudo, o Renan é um cristão reformado que também busca contar às pessoas o que Deus fez na vida dele.
2) Você conhecia o blog Lances Quase Inocentes?
Eu já tinha visto algumas publicações de divulgação em grupos do Facebook como o “Xadrez para Todos” mas nunca tinha me dado o luxo de visitar e poder ler as publicações. Quando recebi o convite para a entrevista, fiz questão de retirar um tempinho para vasculhar o blog e gostei bastante!

3) Como você aprendeu xadrez e como esse jogo se tornou importante na sua vida?
Quando completei 9 anos, em 2007, uma amiga da família tinha uma lojinha de coisas baratas e mandou eu escolher um dos jogos como presente de aniversário. Escolhi, por puro acaso, um xadrez de plástico bem pequeno, devia custar uns 2 a 3 reais na época. Ele me chamara a atenção. Contudo, ninguém sabia jogar! Então comecei a ler as regras no verso da caixa, e com muita dificuldade fui conseguindo entender como cada peça se movimentava, como capturar, e coisas do tipo. Então, fui buscar pessoas para jogar, mas nunca encontrava, pois todos só queriam jogar Damas.
Em dezembro de 2007 houve uma ação do SESC na minha cidade e tinha vários tabuleiros de xadrez. Fiquei ali a brincar e me colocaram num campeonato, ali, na hora. Ainda consegui ganhar uma medalha. Foi aí que decidi que queria aprender um pouco mais. Sempre brincava com amigos, mas só fui começar a estudar o jogo por volta dos 14 a 15 anos de idade. O jogo sempre foi muito importante para mim pois sempre gerou valiosas amizades, bons momentos e ajudava a treinar o raciocínio, a pensar sob pressão.
4) Você compete ou competiu regularmente em torneios ao vivo, ou prefere eventos e partidas online?
Já competi oficialmente algumas vezes, mas hoje não mais. O xadrez para mim é apenas um hobby, algo que faço para me divertir. Eu sempre disse que sou mais um “estudador” do jogo do que um jogador. Gosto mais de passar tempo pensando num problema de finais, por exemplo, do que jogar uma partida. Estudar para competir também me fez encarar o jogo como algo maçante, algo chato, não estava mais sendo prazeroso. Eu nunca tive pretensão de ser profissional, e aquilo estava me trazendo mais dor de cabeça do que alegria.
Há também uma grande dificuldade para alguém do interior do estado da Paraíba, que é o meu caso, e ela é a falta de torneios acessíveis e a falta de incentivo. Os torneios geralmente são muito caros para iniciantes. Há também outros custos como transporte para cidades vizinhas, hospedagem, etc. E isto sem garantia de retorno. A não ser que se queira realmente apenas se divertir.
Prefiro as partidas ao vivo.
5) Teu blog, bem como o teu canal, não pretende ser exclusivo sobre o xadrez, apesar de o jogo ter grande espaço nesses meios. Você tem uma estratégia mais ampla de geração de conteúdo em diversos assuntos?
Olha, até hoje me pergunto como consegui tantos inscritos! Na época que via os grandes canais de xadrez, achava que o limite de inscritos sobre xadrez era, no máximo, 15 a 20 mil. Eu estava enganado. Minha estratégia sempre foi tentar fazer os vídeos da melhor forma possível, sem me preocupar com o retorno, com fé que um dia seria recompensado. Eu ouvia dizer que o YouTube um dia recomendaria os vídeos e os inscritos viriam. Aparentemente é verdade.
Minha estratégia hoje não mudou muito, nunca fui aquele cara que planejava “dominar a internet“, apenas gosto de ajudar. Começamos porque via que existiam pouquíssimos canais de xadrez na época (2014). Hoje há bem mais canais, inclusive os GMs brasileiros estão entrando na onda e isso é ótimo! Só quem tem a ganhar são os inscritos!
Hoje o espaço do xadrez na minha vida foi diminuído, é verdade. Mas eu ainda aprecio muito esse belíssimo jogo, e no que depender de mim, continuarei postando e ajudando aqueles que precisarem.
6) Especificamente em relação ao conteúdo de xadrez, que costuma ser um trabalho árduo para um público bastante crítico e seletivo e com baixo retorno financeiro ao tempo dedicado. Qual tua motivação para superar essas dificuldades e ter um hoje um canal consolidado com muitos vídeos de xadrez?
A maior motivação deve ser fazer sem esperar retorno. Em tudo na vida, fazer as coisas por dinheiro ou por fama, ou por aceitação, nunca é legal. E isso é verdade. Se perceberem bem, às vezes eu estou desmotivado e dou um tempo, passo duas semanas, um mês sem postar. É um tempo de recarregar as energias, pegar um pouco de saudade do jogo, de gravar. A rotina é bem cansativa também, muitas vezes, e é preciso descansar. Fora o cansaço psicológico, às vezes começam a te criticar, às vezes comparam você ao que outros estão fazendo, às vezes a vida está corrida, provas, trabalhos, etc.
Mas o importante é não se abater. Eu passei 1 ano para ter 250 inscritos, 2 anos para ter uns 2500. Com 3 anos fomos para uns 30 mil. A vida tem suas surpresas.

7) Você é um consumidor de livros de xadrez, ou sua geração já usa aplicativos e vídeos como principal forma de aprender sobre o jogo?
Quando eu estava empolgado para competir, eu comprei todos os livros que pude. Eu gosto muito de ter o livro físico em mãos, poder folhear, reproduzir as posições no tabuleiro físico. Contudo, penso que a tecnologia tem ferramentas que ajudam a aprender de forma mais rápida, e para aqueles que são iniciantes ou intermediários e querem crescer no jogo para competir, é um item obrigatório a se ter, para dar um salto e conseguir chegar pelo menos aos 1900 a 2000 de rating.
Os livros hoje servem muito para refinar o conhecimento adquirido. Ler livros de xadrez sempre foi um processo demorado, lento. Gasta-se tempo montando as posições etc. Mas a familiaridade com os livros e com o tabuleiro é fundamental para o sucesso de um jogador avançado ou profissional. Fora os livros que se leem por puro prazer, como eu faço como o meu preferido Tal-Botvinnik, 1960, escrito pelo próprio Mikhail Tal. É divertido para mim ler o Tal escrevendo. Tais coisas pagam o preço dos livros.
8) Pode deixar uma mensagem final para os seguidores do teu canal e os leitores do LQI?
Aos amigos leitores e espectadores, não se desesperem. O xadrez é um jogo belíssimo que merece ser apreciado. Um jogo que leva minutos para se aprender as regras, mas anos para ficar bom, e talvez nunca o dominemos. Aproveite as partidas, sorria, aprecie o jogo, e não apenas as vitórias. Tudo na vida tem um propósito. Nunca conseguiremos saber o que acontecerá daqui a um mês, daqui a um ano.
A você que deseja ser um amador, assim como na vida, lute com firmeza e não abaixe a cabeça para seus oponentes aparentemente “mais fortes”.
A você que deseja ser um profissional, prepare-se bem, siga adiante, o caminho é longo. O Brasil é um lugar árduo para seguir essa carreira, mas não é impossível, e temos visto as oportunidades crescendo; devagar, mas crescendo.
A todos os que me seguem, e me mandam mensagens positivas, o meu muito obrigado. Vocês foram uma parte sensacional da minha vida, talvez eu tenha aprendido mais com vocês do que vocês comigo. Nada disso seria possível sem vocês.
A todos os enxadristas desse Brasil, um forte abraço e que todos os vossos peões sejam coroados damas nessa vida.

O blog LQI agradece ao Renan pelas respostas e deseja sucesso dentro e fora dos tabuleiros!

A caminho da maestria: entrevista com o novo campeão estadual do RJ

Rodrigo Zacarias: campeão do RJ de 2013

Se você realmente quer alguma coisa, você precisa ter vontade, e, no caso do xadrez, é bom ter uma vontade maior que seus adversários (…)” R.Z.

Rodrigo Zacarias entrou no Estadual Absoluto do RJ de 2013 como o pré-classificado nº 13,  pouco cotado nos grupos de apostas. Após 7 rodadas, com um título estadual no bolso (+45 pontos de rating FIDE e +80 no rating CBX), seu torneio mais expressivo até agora, ele segue um caminho aberto rumo à maestria. Rodrigo é mais um exemplo de dedicação ao jogo associado ao destaque numa carreira profissional paralela (ele é engenheiro). Abaixo, ele gentilmente nos brinda com algumas dicas e compartilha de suas experiências enxadrísticas.

LQI: Qual seu primeiro contato com o xadrez?
RZ: Quando eu tinha 12 anos de idade, meus amigos da rua onde morava resolveram jogar xadrez. Isso porque um deles era, naquela época, campeão municipal sub 12 ou algo assim. Lembro como se fosse ontem, eu o achava um monstro do xadrez porque ele me dava mate em 4 lances (risos). Hoje, sei que ele me dava o tão famoso mate pastor, que na realidade não se dá, se toma … rs

LQI: Com qual idade aprendeu a mover as peças?
RZ: Aos 12 anos de idade, conforme mencionei acima. Meus amigos me ensinaram o movimentos. Daí para frente eu simplesmente fiquei cada vez mais fascinado pelo jogo. Morava com a minha vó, só eu e ela, e ela não sabe nada de xadrez, mas eu tive a sorte de ter um tio que me deu de presente uma coleção de 5 livros. Não lembro ao certo de todos, tinha um glossário, um básico de aberturas, um básico de estratégia, mais um que não me lembro e o quinto e mais importante … “Partidas Selecionadas” de Vasily Smyslov. Excelente o livro, foi com ele que comecei a entender como se devia jogar xadrez, criando planos, observando debilidades, seguindo princípios estratégicos. Costumo dizer que aprendi xadrez com Smyslov …rs. Recomendo a todo jogador ler este livro.

LQI: Quando começou a participar de torneios?
RZ: Eu não tinha muito com quem jogar, temos que entender que não vivemos na Rússia e não tem xadrez em toda a praça para se jogar. Então eu lia muito sozinho, porque eu realmente gostava. Computadores não eram muito difundidos na época, e não havia as salas virtuais para se jogar xadrez. Então, meu primeiro torneio eu só joguei aos 24 anos de idade e foi um IRT, no qual eu fiquei em segundo, atrás somente do mestre Ricardo Teixeira. Depois que me formei, no entanto, fiquei dois anos fora do Rio e só voltei em 2007, quando, aí sim comecei a jogar com mais frequência torneios, no entanto, nem perto de quantos eu gostaria …rs. 

LQI: Gosta mais de treinar com livros ou com computadores?
RZ: Hoje em dia as informações, os conhecimentos surgem e se transmitem com muita velocidade. Adoro ler livros sobre xadrez, mas num mundo competitivo de hoje não tem como ficar somente neles. As máquinas estão refutando tudo que é variante, mudando conceitos. Então, eu estudo muito em cima de computador, mas não consigo me afastar do charme dos livros, que ficaram como artigo de consulta, para me dar ideias e cobrir minhas deficiências técnicas, que aliás, são muitas …rs.

LQI: Você indica algum site onde há material de estudo disponível ou uma sala online com jogadores fortes para treinar?
RZ: Eu só jogo no ICC. É pago, mas acho que o custo/beneficio vale a pena. Muitos jogadores fortes estão pagando para estar lá, pressupõe-se que levam o xadrez a sério. Além de, semanalmente, serem apresentados assuntos muito interessantes sobre o jogo em forma de vídeo-aulas.

LQI: Quais suas principais vitórias em torneios oficiais? Quais torneios importantes você ganhou ou se destacou?
RZ: Esse primeiro FIDE que joguei foi um ótimo torneio, não fui campeão, mas me iniciou muito bem nesta vida competitiva. Gosto muito de jogar o interclubes aqui do Rio, sempre defendi o Clube Municipal, que me acolheu muito bem desde o meu começo como jogador de competição. Fui bem em alguns IRTs, conseguindo empatar com alguns MFs aqui do Rio.  Mas, sem dúvida alguma, este estadual foi o resultado mais expressivo.

LQI: Qual sua partida própria preferida? E qual a preferida de outros jogadores?

RZ: Tenho algumas que gostei, mas se for para eleger uma … a parida contra o MF Wagner Peixoto foi tecnicamente perfeita para mim, muito estratégica, arremate tático. Consegui uma vitória de negras contra um jogador forte, gostei muito. Muitos gostaram desta, mas há quem diga que a partida contra o MF Hilton Rios foi mais bonita, compreensível … teve sacrifício e emoção … a galera gosta ..rs,  mas se o Hilton simplesmente não toma o peão e joga uma torre em a4 simplesmente eu estaria mal na posição. Mas, o risco valeu a pena, ganhei e ainda agradei a torcida ..rs


LQI: Quem venceria em 1975, Karpov ou Fischer?

RZ: Pergunta de vestibular não vale ..rs
Sou fã do Karpov, mas creio que Fischer iria bolar um jeito de dobrar a lógica e precisão de Karpov. Ele era um gênio capaz de surpreender, tal como Kasparov.

LQI: Qual jogador você admira?
RZ: Muitos. Smyslov, meu mestre ..rs. Mas gosto do método de Botvinnik, da agressividade do Alekhine. Hoje em dia, admiro a tenacidade de Anand, a vontade de vencer do Carlsen e do jogo agudo do Topalov também.

LQI: Você acaba de contrariar os prognósticos e vencer de forma incontestável e invicta o ’38º Campeonato Estadual Absoluto do RJ’ a frente de vários mestres tradicionais do seu estado. Como foi a preparação e o que você falaria para motivar outros jogadores amadores a tentar repetir sua façanha?
RZ: Foi uma surpresa realmente. Fui focado para conseguir classificação para a semifinal do brasileiro e fisguei o título …rs.
Minha preparação foi bem intensa, desde o carioca que classificou para o estadual, há um mês. Eu jogava um jogo com ritmo de 1h:30min sem incremento toda segunda a noite, o que me ajudava a encontrar o foco necessário para se jogar uma partida pensada. Eu estudava 2 horas por dia de terça a sexta e depois ia malhar … estar sempre em forma ajuda a oxigenação do corpo, me deixa disposto e penso melhor, memorizo as coisas melhor. E estudava de 7:00 a 12:00 no sábado e domingo só para fechar bem a semana ..rs. Ou seja, meu resultado tem 10% de talento e 90% de dedicação, disciplina e vontade e essa é a mensagem, que não serve só para o xadrez. Se você realmente quer alguma coisa, você precisa ter vontade, e, no caso do xadrez, é bom ter uma vontade maior que seus adversários, diga-se de passagem …rs

O LQI agradece ao campeão estadual do RJ de 2013 e termina essa postagem com a partida que ele indicou como a sua melhor, além de ter sido esta a partida que selou sua vitória no torneio.

Play online chess

Entrevista com MF Felipe Fernandes

O primeiro entrevistado deste blog é o MF Felipe Fernandes, enxadrista cearense hoje radicado no RN, que aceitou gentilmente o convite para responder algumas perguntas.

MF Felipe Fernandes em ação no Torneio de Xadrez de Natal 2011
Felipe é um excelente exemplo duma categoria de jogadores que alcançou excelência no jogo e, paralelamente, sucesso noutra carreira: além de MF, ele é doutor em Engenharia Civil, profissão que exerce. Sendo assim, ele representa também um exemplo para uma grande quantidade de jogadores que tem uma profissão convencional mas almeja também um alto grau de conhecimento e habilidade no jogo, arte, ciência.
Qual seu primeiro contato com o xadrez?
MF Felipe: Foi na família. Eu tinha dois tios que jogavam xadrez e me ensinaram.
Com qual idade aprendeu a mover as peças?
MF Felipe: Com 10 anos.
Quando começou a participar de torneios?
MF Felipe: 14 anos, o Fórmula X no BNB clube de Fortaleza.
Gosta mais de treinar com livros ou com computadores?
MF Felipe: Mais com computadores porque o material é mais vasto, mas procuro complementar com livros.
Você indica algum site onde há material de estudo disponível ou uma sala online com jogadores fortes para treinar?
Quais suas principais vitórias em torneios oficiais? Quais torneios importantes você ganhou ou se destacou?
MF Felipe: Tive vitórias em campeonato cearense absoluto, blitz e por equipes. Ganhei alguns torneios abertos. Nos torneios do SESI venci um brasileiro e tive um 3º no mundial. (nota no blog: Felipe foi Campeão Cearense Absoluto de Xadrez em 2005).
Qual sua partida própria preferida? E qual a preferida de outros jogadores?
MF Felipe: Não tenho uma preferida. Gosto de partidas que envolvem exploração de debilidades, de planos de ataque e de finais bem jogados. Não gosto das partidas com sutilezas posicionais demais, nem com ataques pirotécnicos.
Quem venceria em 1975, Karpov ou Fischer?
MF Felipe: Posso especular que seria o Fischer pelo que ele fez em 1971, mas eu não conheço o nível do Karpov em 1975 e acho que deve ser levado em conta o tempo que Fischer estava parado, então é difícil responder com convicção.
Qual jogador você admira?
MF Felipe: Uma grande lista. Menciono a seguir alguns: Carlsen, Kasparov, Topalov, Karpov, Fischer, Botvinik, Capablanca.
Ele não quis mencionar uma partida própria, mas coloco uma aqui que, a meu ver, honra bem suas habilidades no xadrez, na qual ele vence o forte enxadrista Neri Silveira: