Será o fim dos livros de xadrez? (III)

Livros de xadrez ainda têm espaço nos dias atuais? Uma foto recente do campeão mundial de xadrez pode nos dar uma resposta a esta pergunta.

Um dos textos mais lidos deste blog foi Será o fim dos livros de xadrez? (2013), que recebeu um rápido adendo alguns anos depois. Chegou a hora da parte III!

O estopim daquele primeiro texto foi a percepção de que as livrarias físicas não estavam mais oferecendo livros sobre nosso amado jogo. E foi uma observação certeira, em parte pela própria crise no mercado editorial nacional que já se iniciava, em parte pelos fatores que levantei na época, principalmente o reduzido interesse na nova geração de jogadores de elite em publicar livros.

Hoje, os meios mais usados pelos novos estudantes do jogo são aulas em vídeo, aplicativos para prática de posições chave e tática e, no final da fila, alguns seletos livros clássicos.

Esses clássicos, por sinal, continuam a despertar interesse dos aficionados, um dos exemplos é o texto do GM Rafael Leitão sobre os 20 livros que o ajudaram a se tornar GM, que aparece como um dos destaques em sua página na internet. Outro artigo destacado de Leitão é sobre os melhores livros de xadrez já escritos.

Recentemente, um amigo me perguntou porque eu ainda estava empenhado em produzir material sobre xadrez em forma de livros (no meu caso, ebooks), uma vez que as pessoas leem cada vez menos. Respondi que o fazia por ser primeiro um objetivo pessoal, fruto do fascínio que tenho por livros, e também pela memória afetiva que adquiri ao longo dos estudos sobre xadrez.

Admito que a palavra escrita tem perdido a popularidade apesar da disseminação do formato de livro digital. Basta ver a relativa decadência dos blogs frente aos canais do YouTube.

Mas haverá, ainda, espaço para os livros?

Na última semana, apareceu em alguns grupos de xadrez online a seguinte foto do campeão mundial de xadrez Magnus Carlsen:

Magnus Carlsen, chessboard, chess book

A principal reação das pessoas foi descobrir qual seria aquele livro ao lado de Carlsen. Isso serviu de claro exemplo para muitos de nós de que não é a chegada de novos formatos que fará o livro desaparecer. Mesmo o melhor do mundo os utiliza, em formato físico, com tabuleiro físico, de tempos em tempos.

Lembrando as palavras de Kasparov, os “livros empoeirados” ainda ajudarão a formar muitas gerações de jogadores.

P.S.: o livro na foto é Chess Strategy in Action, escrito pelo MI norte-americano John L. Watson (que deve estar bastante contente com a publicidade gratuita!)

Um dos segredos do treinamento de Magnus Carlsen?

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Rafael Leitão, um GM de Visão

No auge da carreira, cheio de conquistas no xadrez, Rafael fez algo que poucos GM’s brasileiros fizeram: colocar em risco seus resultados como jogador e resolver empreender na área de educação enxadrística.

Já tem um tempo que estou pensando em escrever sobre o GM Rafael Leitão e sua excelente iniciativa de fundar a Academia Rafael Leitão.

Rafael, nordestino, natural de São Luís – MA, é referência no xadrez brasileiro desde sua infância, quando foi campeão mundial pré-infantil (sub-12) aos 11 anos de idade, frente a nomes como Peter Leko (que anos depois foi vice-campeão mundial absoluto). Anos mais tarde, Rafael foi campeão mundial juvenil (sub-18). Atualmente é o número 1 do Brasil, além de ter-se consagrado campeão nacional inúmeras vezes.

No auge da carreira, cheio de conquistas, Rafael fez algo que poucos GMs brasileiros fizeram: colocar em risco seus resultados como jogador e resolver empreender na área de educação enxadrística.

Em nosso país, no xadrez, bem como em outros esportes, não temos tradição de formar talentos, eles aparecem por esforço pessoal, como o caso de Mequinho na década de 1960, e de todos os outros grandes mestres brasileiros.   Todos sabem que Mequinho chegou a ser o 3° melhor enxadrista do mundo na década de 1970. Ele estava obcecado pelo desejo de se tornar campeão do mundo, mas ficou muito doente e se afastou por mais de 10 anos. Ao retornar às competições, jamais voltou ao mesmo nível, mas continua com a ideia fixa de ser campeão mundial. Perdemos, assim, a chance de ter um dos melhores jogadores brasileiros dedicado a ensinar às novas gerações.

Essa lacuna está a ser preenchida pelo GM Leitão, que demonstra ver em seus cálculos muitos lances a frente, não somente no tabuleiro! E eu acredito que esta iniciativa será próspera e longeva, por algumas qualidades que são notórias em nosso campeão: amor ao jogo, didática e seriedade perante o jogo.

Nas poucas vezes em que pude ver Rafael jogando, me impressionei sempre com a postura dele, de longe o que demonstrava mais seriedade jogando, mesmo frente a jogadores bem mais fracos.

Parabéns GM Leitão, essa sua iniciativa é, sem dúvidas, o impulso necessário para o crescimento da qualidade enxadrística em nosso país.

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