Novidades no Rating FIDE

Esta é a primeira postagem sobre as mudanças realizadas pela FIDE no que diz respeito à formação de rating internacional. Apesar de já estar sendo comentado na internet há algumas semanas, eu esperei até sair oficialmente no site da FIDE (o que demorou um pouco).

As regras da FIDE sobre rating estão na seção 2. Regulações do Rating FIDE na parte B. Comissões Permanentes do handbook FIDE. Os itens e subitens citados nesta postagem referem-se a esta parte específica do handbook FIDE.

A FIDE alterou de forma consierável a regra de formação de rating inicial, com base nas conclusões do Encontro sobre Rating da FIDE realizado em Atenas nos dias 2 e 3 de junho de 2011. O que mudou?

Item 8.21
  • Como era: Se um jogador sem rating marcar menos de 1 ponto no seu primeiro evento válido para rating, ou  jogar menos de 3 partidas contra jogadores com rating em qualquer evento válido para rating, sua pontuação é desconsiderada.
  • Como ficou: Se um jogador sem rating marcar menos de 1 ponto, ou jogar menos de três adversários com rating no seu primeiro evento válido para rating, sua pontuação é desconsiderada. Nos eventos subsequentes todos os resultados, mesmo se marcar zero pontos, ou jogar menos de 3 partidas contra jogadores com rating, são acumuladas para o seu rating inicial.
  • Comentário: continua a valer o descarte do primeiro torneio FIDE caso o jogador sem rating marque menos de um ponto ou jogue menos de 3 partidas contra rateados. Porém, a partir do torneio seguinte, mesmo que ele jogue somente uma partida contra rateado e que seja uma derrota, já será acumulado como um bloco. Nesse caso é essencial verificar o que consta no item 6.1, que complementa e confirma o item 8.21, que deixa claro que um bloco só será válido se seu rating performance ficar acima do piso mínimo de rating, que atualmente é 1200 (item 0.6). Continua valendo o total de 9 partidas contra rateados como o mínimo para figurar na lista de rating FIDE, e eventos com mais de 2 anos são desconsiderados (item 7.14c). O principal impacto dessa mudança é que haverá um considerável aumento no número de jogadores com rating internacional. Isso será bom para a confiabilidade do sistema, uma vez que quanto mais jogadores com rating, maior a significância estatística do rating, e melhor a estimativa de força enxadrística que ele expressa. Por outro lado, cai um fator que eu considerava ainda um diferencial na lista da FIDE: era necessário marcar pelo menos 1 ponto para entrar. Outro impacto é que, uma vez com rating FIDE, a anuidade CBX aumentará, o que pode fazer com que caia a quantidade de cadastros pagos nos próximos anos (atualmente a anuidade CBX é de R$ 40,00 para jogadores sem rating FIDE e R$ 70,00 para jogadores com rating FIDE).

Item 8.23

  • Como era: Se ele marcar mais de 50%, então Ru = Ra + 12,5 para cada meio ponto acima de 50%
  • Como ficou: Se ele marcar mais de 50%, então Ru = Ra + 15 para cada meio ponto acima de 50% ”
  • Comentário: essa medida é simplesmente a implementação da medida abaixo (8.56) para o caso de desempenho superior a 50% nas partidas jogadas até a formação do rating FIDE.

Item 8.56 (primeira linha)

  • Como era: K = 25 para um novo jogador para a lista de classificação, até que tenha completado eventos com pelo menos 30 jogos.
  • Como ficou: K = 30 para um novo jogador para a lista de classificação, até que tenha completado eventos com pelo menos 30 jogos.
  • Comentário: o fator K é o ponderador das mudanças de rating. A cada torneio o novo rating (Rn) será um ajuste feito no rating antigo (Ra) com base na diferença entre os pontos efetivamente conquistados (W) e os pontos que seriam esperados (We) ponderada pelo fator K: Rn = Ra + K x (W – We). Ou seja, K controla a “velocidade” da mudança de rating. A FIDE só alterou o K para aqueles com até 25 partidas oficiais, pois foi verificado que jogadores que entram na lista de rating com pontuação anormalmente elevada, tendem a ser jogadores com rating superestimado, e jogadores iniciantes na lista com rating anormalmente baixo, tendem a ser jogadores com rating subestimado. O aumento de K tende a acelerar a convergência desses ratings para um valor mais próximo da real da força do jogador.
Novas mudanças ainda podem ocorrer, como a redução do piso para 1000 e a publicação da lista mensalmente (hoje ela é bimestral). As novas regras estão em vigor para torneios realizados a partir de 1/julho/2011.
Em breve faremos uma nova revisão do tópico COMO FORMAR O RATING FIDE com exemplos práticos e outras considerações.

Novo blog de xadrez no ar

O querido amigo Prof. Ari Maia lançou um blog suplementar ao seu já consagrado site Xadrez Brasil. É o http://xadrezbrasileiro.blogspot.com/ no qual as noticias de xadrez de todo o território nacional podem ser acessadas e comentadas livremente (uma facilidade do formato blog). Eu já adicionei à barra de blogs favoritos que vocês podem ver no lado direito da página.

Um lance desconcertante

Na posição abaixo, você seria capaz de fazer uma jogada que recebeu a seguinte descrição: “um dos lances mais fantásticos já feitos sobre um tabuleiro de xadrez”? Um lance muito bonito, que recebeu as seguintes valorações em análises por diferentes autoridades enxadrísticas:
  • ‘!!’ – Irving Chernev.
  • ‘!!’ – FM G. Burgess.
  • ‘!!!’ – GM A. Soltis.
  • ‘!!!’ – GM Ruben Fine.
Segue a posição (negras jogam e ganham):
Levitsky – Marshall (1912)

Resposta aqui (mas vale pensar primeiro por si mesmo).

A maestria no xadrez em meados do século XX

A maestria no xadrez, sem dúvida, é um grande atrativo para todos os seus praticantes. Seja pela vontade de um dia dominar os mais importantes elementos do jogo, seja pelo fascínio que os grandes mestres exercem sobre os jogadores menos fortes.
Antes de a FIDE criar os títulos oficiais de Mestre Internacional (MI) e Grande Mestre Internacional (GMI, ou só GM) em 1949, ou mesmo de Mestre FIDE (MF) em 1978, os jogadores tinham somente seus nomes, sua reputação, como mestres do jogo.
MI Edward Lasker (fonte: wikipedia)
O MI Edward Lasker (1885-1981) descreveu em seu livro The Adventures of Chess (1ª edição em 1949) as qualidades que os mestres de xadrez deveriam ter, com base em estudos feitos por psicólogos envolvendo mestres e amadores1:
  1. Elevado grau de inteligência, apesar de não necessariamente ter o mesmo grau de cultura. Um forte enxadrista pode ter muito pouca cultura. Pode até mesmo não saber ler ou escrever; mas jamais será um estúpido.
  2. A capacidade de pensar objetivamente. A presença de um oponente que entenda toda a lógica rigorosa das relações existentes no tabuleiro deixa pouco espaço para a arbitrariedade, para o julgamento subjetivo.
  3. A capacidade de pensamento abstrato. Fazer generalizações corretas, baseadas na experiência colhida em anos de prática, produzem o chamado “instinto posicional” de um mestre de xadrez que lhe permite inferir o melhor lance em situações nas quais o cálculo exato é impossível.
  4. A capacidade de distribuir a atenção sobre diferentes fatores, como os que estão sempre envolvidos em uma “combinação”. Isto evita deixar de ver certos lances importantes, que é a maior fraqueza da maioria dos amadores.
  5. Uma vontade disciplinada capaz de forçar a velocidade e concentração do processo de pensamento, sempre que necessário, muito além de sua capacidade normal.
  6. Bons nervos e auto-controle. Um jogador que não pode disciplinar suas emoções ficará desmoralizado e jogará muito abaixo de sua força real. Um mestre de xadrez deve ser capaz de se manter sob controle quando nos apuros de tempo. Se cometer um erro que o faça perder uma partida ganha, ele deve assimilar calmamente a derrota e seguir adiante.
  7. Auto-confiança. Um mestre de xadrez deve ter confiança em seu julgamento posicional, já que a análise detalhada de todas as variantes raramente é possível.
Além desse 7 itens, ele ainda comenta ser necessário:
  1. Perfeição técnica. Isto exige uma grande quantidade de prática desde tenra idade. São necessários anos de estudo para assimilar o que os mestres de xadrez do passado descobriram, e para acompanhar a crescente massa de análise contemporânea de aberturas.
  2. Boa forma física é boa saúde. O estado de saúde de um mestre sempre afeta sua pontuação em um torneio. Ele deve ter disposição física para manter a cabeça limpa nas muitas horas de uma sessão de jogo (na época uma partida podia durar várias sessões de jogo de 4 a 5 horas cada).
  3. Enfrentar adversários de força superior. Deve-se praticar contra os jogadores mais fortes. Isto coloca em desvantagem lamentável jogadores que têm pouca ou nenhuma oportunidade de passar bastante tempo nas cidades em que os jogadores mais fortes se encontram (hoje em dia, com a internet, essa dificuldade é muito reduzida).
    1 Tradução livre e adaptada de trechos do Capítulo VI – Chess Mentality, da 2ª Edição do livro The Adventures of Chess, do MI Edward Lasker, pela Dover Publications, 1950.
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