Divulgação rápida de torneios

ADX: 9.º Torneio de Xadrez Pensado da ADX terá início na próxima terça-feira, 3 de julho.

Camp. Brasileiro de Xadrez 2012 – Semifinal 2: “Fortaleza sediará mais uma grande festa do xadrez nacional: a Semifinal 2 (Norte e Nordeste) do 79º Campeonato Brasileiro de Xadrez. O torneio acontecerá no Hotel Praiano na Avenida Beira-Mar, entre os dias 1º e 4 de novembro. Aviso cedo, para quem quiser comprar passagens mais baratas e para as Federações se organizarem com relação aos torneios classificatórios. Em breve regulamento.“ Francisco Ari Maia Júnior (organizador)

Rating FIDE RN – JULHO/AGOSTO 2012

A FIDE publicou a nova lista de rating que será válida para os torneios realizados em Julho e Agosto deste ano. O principal destaque, como já havia sido antecipado aqui, é a pontuação obtida pelo MF Iack Macedo de 2404, histórica para o estado. Iack consegue, assim, mais um dos requisitos para o título de Mestre Internacional, ficam faltando mais 2 normas que certamente logo chegarão. Destaque também para o bom desempenho dos jogadores até 20 anos, todos com bom incremento em seus ELOS. Parabéns ao jovem Bruno Cirne que passa a figurar na lista da FIDE, com ELO inicial de 1704.

O Brasil passa a ter 2009 enxadristas na lista da FIDE, incremento de 52 jogadores em relação à lista passada (+2,65%, crescimento bastante modesto).

Outra novidade a partir desta listagem, é que agora a FIDE tem um rating rápido e um rating blitz. Vários potiguares já movimentaram seu rating FIDE blitz no estadual de xadrez relâmpago realizado no início do ano.

A lista de rating clássico para os jogadores do RN pode ser vista aqui.

Xadrez nordestino e brasileiro tem novo MI

Há alguns anos, o xadrez nordestino, já com um bom número de mestres FIDE (MF), ansiava por um jogador que alcançasse pelo menos uma titulação acima, a de Mestre Internacional (MI).

Qual a diferença, já que ambas são prestigiosas titulações oficiais da FIDE?
A maior diferença está no grau de dificuldade para receber o título. No caso do MF, hoje em dia é necessário “apenas” que um jogador alcance 2300 pontos no ranking internacional, chamado de ELO FIDE.
No caso de MI, é necessário alcançar 2400 pontos de ELO. Mas não é só isso. Ainda é preciso obter, em três torneios internacionais específicos (que precisam cumprir certos requisitos), resultados equivalentes ao que seriam esperados para um MI. Esses resultados em nível de mestre (ou grande mestre) são chamados de Normas.
Por exemplo, o MF potiguar Iack Macedo recentemente fez sua primeira Norma de MI num torneio na argentina, pois obteve a pontuação esperada para um MI que era no mínimo 6 pontos em 9 partidas naquele torneio específico (no qual Iack enfrentou 3 MI´s e 3 MF´s, além de outros 3 jogadores com mais de 2245 pontos de ELO FIDE).
Além desses casos, em certos torneios muito especiais, como Copa do Mundo de Xadrez, Olimpíadas de Xadrez, Campeonatos de alcance continental, absolutos ou de categorias, por exemplo Sulamericano, Zonais continentais etc, podem conferir as titulações de MF, MI ou até GM (grande mestre) diretamente, mesmo que o jogador não tenha sequer pontuação ELO. Pode parecer mais fácil, mas são torneios tão difíceis que, em geral, somente quem já tem o nível de jogo requerido consegue mesmo a titulação direta. Por exemplo, se um jogador consegue somente qualificar-se para a Copa de Mundo da FIDE ele já recebe diretamente o título de MI.
Foi justamente num torneio especial como esses acima, o Campeonato Sulamericano Sub-20, que um dos nordestinos candidatos ao título de MI, MF Yago Santiago, conseguiu a tão esperada distinção. Yago foi vice-campeão no torneio, empatado em pontos com o campeão, o MI Evandro Barbosa, e, como este último já era MI, o título reservado ao campeão passou para ele.
Yago Santiago, 19 anos de idade, no MI do xadrez brasileiro (foto: Reino de Caíssa)
A profecia do MF potiguar Carlos Pinto de que em breve o nordeste teria um MI se concretiza então. O título de Yago deve ser homologado em breve, possivelmente no 83º Congresso da FIDE a ser realizado em agosto próximo, e a boa notícia é que ele não deve ficar sozinho por muito tempo. Já vários dos mais fortes enxadristas nordestinos estão com bom caminho andado rumo à titulação, por exemplo, daqueles que eu posso lembrar:
Jogador UF NORMAS Elo >= 2400 ELO (maio/2012) Melhor ELO
MF Paulo Jatobá BA 0 SIM 2419 2438
MF Iack Macedo RN 1 NÃO* 2379 2379
MF Carlos Barreto RN 2 NÃO 2346 2362
MF Luismar Brito PB 3 NÃO 2283 2364

* Na próxima listagem de ELO FIDE, prevista para 1/7/2012, Iack deve ultrapassar os 2400.
Parabenizo o agora MI Yago. Fico certo de que seu triunfo servirá de estímulo para que outros títulos maiores venham, e que o xadrez em nossa região e em nosso país certamente chegará a um nível muito melhor de técnica, reconhecimento e incentivos.

Mais um ponto sobre o xadrez na URSS

Estou lendo lentamente (primeiro para demorar a acabar, segundo por escassez de tempo mesmo) o excelente livro ‘White King and Red Queen – How the cold war was fought on the chessboard’ (que pode ser traduzido como ‘Rei Branco e Rainha Vermelha – Como a guerra fria foi lutada no tabuleiro’), de autoria do jornalista Daniel Johnson, publicado pela primeira vez em Londres, Inglaterra, em 2007, pela Atlantic Books.

Capa da edição que estou lendo: Kasparov argumenta algo durante um final contra Korchnoi
(possivelmente a regra 10.2)
Até onde eu li, o livro tem tratado do xadrez na URSS, como ele se tornou um instrumento político de propaganda, das intrigas, dos mestres que foram beneficiados e daqueles que caíram no ostracismo por serem insuficientemente alinhados com os ideais do partido comunista que governava a União Soviética.
Muito se fala sobre a massificação do xadrez promovida pelo partido, o que permitiu que a URSS alcançasse hegemonia mundial a partir do primeiro título mundial de Botvinnik. Porém, hoje li duas passagens no livro que mostram o outro lado, a visão dos cidadãos comuns soviéticos, sobretudo as crianças, mostrando o porquê de ser tão interessante para eles investir seu tempo no aprendizado do jogo. 
Segue o primeiro trecho:

“Unlike the arts, humanities and sciences, which were forced to interpret everything through the prism of Marxism-Leninism, such eclecticism was permited only in chess. Chess could boast a genuine marketplace of ideas that was virtually unique in Soviet intellectual life. In a society where mind-numbing uniformity was imposed on leisure as well as work; where the press and broadcasting largely consisted on propaganda; where literature and the arts were censored; where alcohol and tobacco were the only luxuries; where life for most people was lived in the interstices between fear and tedium – in such a society, chess was an oasis for millions thirsting for mental stimulation.”

O trecho pode ser traduzido assim:

“Ao contrário das artes, humanidades e ciências, que foram forçadas a interpretar tudo pelo prisma do Marxismo-Leninismo, tal ecletismo (de ideias) foi permitido a apenas no xadrez. O xadrez poderia se gabar de constituir um genuíno mercado de ideias que foi praticamente único na vida intelectual Soviética. Numa sociedade onde uma tediosa uniformidade foi imposta tanto ao lazer como ao trabalho; onde a imprensa e as radiodifusões em grande parte consistiam em propaganda (do governo); onde a literatura e as artes eram censuradas; onde o álcool e o tabaco eram os únicos luxos; onde a vida para a maioria das pessoas era vivida nos interstícios entre o medo e o tédio – em tal sociedade, o xadrez era um oásis para milhões de pessoas sedentas de estimulação mental.”

Segue o segundo trecho, este mais específico para aqueles que almejavam (se tinham capacidade) tornar-se profissionais do jogo na URSS:

“The lot of a chess professional was an enviable one: stipends were higher than average wages, but the biggest lure was the likelihood of foreign travel and foreign-currency earnings. In a centraly planned economy, from which choice had been banished, such opportunities conferred almost unimaginable privilege.”

Que pode ser traduzido assim:

“A situação financeira dum profissional do xadrez (na URSS) era invejável: salários eram mais elevados do que a média, mas a maior atrativo era a possibilidade de viajar ao exterior e auferir ganhos em moeda estrangeira. Numa economia centralizada, que bania qualquer opção, tais oportunidades constituíam um privilégio quase inimaginável.”

Assim, como se diz por aqui, juntou a fome com a vontade de comer: o governo incentivava o xadrez e impunha a massificação, e a população via como uma das melhores atividades disponíveis e uma das melhores profissões! Apesar de não ser uma situação fácil, pelo menos resta algum consolo no fato de o xadrez ter servido para lançar alguma luz sobre a vida de milhões de pessoas submetidas a um regime totalitário. Pelo menos, dentro das 64 casas, podia-se pensar livremente, ainda que por apenas alguns lances.