Habemus Magnus!

Carlsen x Anand, partida 1 – o desafiante mira o adversário e seu Título! (site oficial)
Nada melhor para reativar este blog do que o término do “match” entre os Grandes Mestres Viswanathan Anand (Índia, 43 anos de idade, campeão na defesa do título, ELO 2775) e Magnus Carlsen (Noruega, 22 anos de idade, número 1 do mundo, desafiante, ELO 2870). O match pelo título mundial da FIDE foi realizado em Chennai (Índia) desde o dia 9 de novembro e terminou ontem, 23/11/2013, com um lutado empate na décima partida que encerrou a disputa em 6,5 x 3,5 a favor do norueguês. Portanto, aconteceu a ‘passagem de bastão‘ preconizada neste blog.
Pode parecer que não houve surpresa alguma, já que a história dos confrontos pelo título máximo de Campeão do Mundo, nas vezes em que o campeão mundial enfrentou como desafiante o primeiro do ranking mundial (por exemplo, Spassky x Fischer e Karpov x Kasparov), o desafiante costuma levar a melhor. No caso de Anand x Carlsen, a diferença de rating era de 95 pontos, que no xadrez equivale quase a uma categoria de diferença entre os dois Grandes Mestres.
Mas rating não ganha jogo, o que ganha são boas jogadas, bons planos, tenacidade, vontade de vencer, concentração, e nesses fatores Carlsen foi superior a Anand em quase todas as partidas. O jovem fenômeno da Noruega colocou o herói indiano em situações delicadas, nas quais seu elevado nível de jogo não teve o rendimento esperado, e erros impensáveis para um jogador de sua classe foram cometidos. Particularmente estranho foi o comportamento na nona partida, com peças brancas e boa posição de ataque, Anand caiu na armadilha de Carlsen, que acelerou o ritmo de suas jogadas e induziu Anand a jogar rápido no momento crítico, ele então errou, deixando de conseguir um empate e praticamente selando o destino do “match”.
O melhor jogador do mundo na atualidade enfim conquista o título que lhe faltava, a coroa mundial, a mesma que um dia pertenceu a Steinitz, Lasker, Capablanca, Alekhine, Botwinnik, Tal, Smyslov, Petrossian, Spassky, Fischer, Karpov, Kasparov, Kramnik e Anand. É o legítimo líder que deve dominar o xadrez mundial por longo tempo, dado sua idade, a exemplo do que fizeram Lasker, Karpov e Kasparov (a não ser que lhe aconteça o mesmo que a Fischer, que teve medo de perder e nunca aceitou colocar seu título mundial em disputa).
Para Anand, cuja conquista do título máximo de forma absoluta em 2007 tanto significou para o xadrez, como foi dito aqui no blog, resta o consolo nas palavras do grande Mikhail Tal: “o título de campeão do mundo é temporário, mas o de ex-campeão é vitalício”! Anand ainda tem plenas condições de voltar a disputar o título, além de já ter seu nome garantido como um dos maiores do jogo em toda a história.
A vitória de Carlsen também é valorosa por colocar em evidência uma forma de jogar que não está na moda entre os outros Grandes Mestres da elite. Carlsen não é fanático por profundas preparações teóricas, que tendem a tornar o jogo enfadonho e seco. Ele prefere começar o jogo de forma mais despretensiosa, às vezes com mínima ou nenhuma vantagem para, então, já na fase do meio-jogo e depois, no final de partida, usar de seu conhecimento, capacidade de análise e técnica apurada, para tirar vantagem de quase nada e vencer seus oponentes. Quando alguém lhe propõe um embate teórico de aberturas, ele simplesmente convida para jogar xadrez! Mas não sejamos ingênuos, ele conhece muito da teoria de abertura, assim como de todos os outros aspectos teóricos do jogo, mas não é daí que ele tira sua força e sua superioridade frente aos demais.
Parabéns ao novo campeão. Vida longa ao xadrez jogado no tabuleiro, longe das preparações computacionais e das linhas memorizadas! Este é o xadrez do novo campeão do mundo!

Apoio ao enxadrista Alan Lima

Alan Lima participando do Nordestão em 2013. (foto: NEM)
O enxadrista potiguar Alan Lima encontra-se em luta contra um câncer linfático. Está em andamento uma campanha para ajudar Alan neste momento difícil, a fim de arrecadar recursos que ajudarão no tratamento.

Aqueles que quiserem ajudar podem fazê-lo por meio dos dados bancários abaixo:

Alan Silva de Lima

Caixa Economica Federal 

Ag.: 0539 Conta: 00179263-9 Operação: 013



Fica ainda uma sugestão à comunidade enxadrística de Natal de realizar um torneio rápido com inscrições revertidas para o tratamento do Alan. Lembremos do lema da FIDE: gens una sumus!

Copa do Mundo: final sem surpresas

Kramnik jogará de brancas na primeira partida da final (foto: chessbase.com)
A Copa do Mundo de Xadrez que se realiza em Tromsø, Noruega, vai ser decidida entre dois russos, GM Vladimir Kramnik(2784, dispensa apresentações) e GM Dmitry Andreikin (2716, atual campeão da Rússia). Uma final sem surpresas nem na nacionalidade nem nos nomes dos finalistas, já que eventos deste tipo “mata-mata” costumam trazer sempre na decisão um favorito e um jogador que surpreende ao se beneficiar do formato de disputa.
GM Andreikin: para alguns uma surpresa (foto:http://tromso2014.jalbum.net)
Andreikin, o “azarão”, nas 12 partidas clássicas que disputou até o momento venceu apenas uma e empatou as demais (com uma performance de 2690, ou seja, perdendo rating!). Já nas partidas rápidas, de 25 ou 10 minutos (ambos os ritmos com acréscimo de 10 seg/lance), ele venceu 8 das 12 que disputou, com somente uma derrota (performance de 2787!). Ele eliminou os fortíssimos Karjakin (2772) e Svidler (2746) nas partidas rápidas de 25 min. Andreikin só não precisou ir para o tie-breakna segunda rodada, quando enfrentou o GM vietnamita Nguyen (2625). Sua maior dificuldade foi contra o GM Dreev (2668) na terceira rodada, quando teve que ir até as partidas de 10 min e contra quem teve sua única derrota na competição.
GM Kramnik: o ex-campeão mundial chega à final
com fama e xadrez de favorito. (foto:http://tromso2014.jalbum.net)
Já Kramnik encerrou 3 de duas 6 disputas ainda nas partidas clássicas (venceu 4 das 12 disputadas com performance de 2705). Nos outros 3 confrontos, precisou apenas das partidas de 25 min, nas quais teve uma performance impecável de 2753, vencendo 4 das 6 que disputou, sem derrotas. Sua maior dificuldade, por incrível que pareça, foi na segunda rodada contra o GM Areshchenko (2709), que só foi derrotado na segunda partida de 25 min entre eles.
Portanto, apesar de ter precisado menos das partidas rápidas, Kramnik parece estar tão afiado quanto seu rival caso seja necessário ir para o desempate. Porém, acredito que para Kramnik, a melhor estratégia é tentar decidir nas 4 partidas clássicas.
Para apimentar a disputa, vale lembrar que Andreikin venceu as duas únicas partidas clássicas entre os dois, ambas neste ano de 2013, em Dortmund no início de agosto e no Memorial Tal, em junho. Estranhamente, em partidas rápidas, a vantagem é para Kramnik (2 a 1).

Amanhã é dia livre em Tromsø, e Kramnik vai se preparar numa pescaria com a GM Susan Polgar e outros. Já Andreikin, certamente, tem outros planos!