Quando uma partida de xadrez é iniciada, existe um perfeito equilíbrio, uma exata simetria. Não fossem as cores alternadas de tabuleiro e peças, os dois bandos pareceriam exata imagem especular um do outro. Só há uma diferença, alguém tem que começar a partida, e esse pequeno desequilíbrio se revela crucial!
A convenção é que as brancas começam, o que deixa o exército preto com a necessidade de compensar o fato de estar sempre um passo em atraso.
Muitos iniciantes, assim, têm uma ideia que parece promissora, principalmente contra jogadores bem mais fortes: repetir exatamente as jogadas do adversário.
A princípio, parece uma boa ideia e, na infinitude de possibilidades para uma partida de xadrez, deve haver pelo menos milhares de situações em que se possa chegar ao empate, mas o fato é que manter a simetria em fases cada vez mais avançadas da partida quase sempre amplifica a vantagem de quem está um lance à frente.
Segue um exemplo simples que, apesar de inverossímil, mostra de cara que não é verdade que SEMPRE repetir o lance do branco leva o preto ao empate:
O caso acima não será visto numa partida real, porém ilustra bem o risco de sempre manter a posição simétrica, postergando e amplificando a vantagem das brancas de ter o primeiro lance: quem tem a vez de jogar pode estar a apenas um lance do mate!
Um segundo exemplo mais realista e ilustrativo vem duma partida centenária jogada pelo ex-campeão mundial José Raul Capablanca em 1918, provavelmente numa sessão de simultâneas. Seu adversário (cujo nome foi não preservado, daí o uso de N.N.) achou seguro repetir os lances do lendário campeão, até receber uma dura lição:
O xadrez não é um jogo contra o espelho, como nos lembram as diferentes cores dos exércitos; enquanto no espelho estamos em frente a nós mesmos, no xadrez, há sempre alguém com ideias próprias do outro lado do tabuleiro !
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