Tempo e decisão

Há uma famosa canção entre os franceses que diz que os jovens costumam pensar que os mais velhos são bobos, não sabem das coisas, enquanto que os mais velhos, com frequência, fazem o mesmo julgamento dos jovens. Sabiamente, o compositor conclui que a idade não tem relação com o grau de tolice do sujeito, “quand on est con, on est con”!

A canção me veio à mente após conhecer um jovem que me trouxe lembranças daquele que fui. Ao contrário da canção, ele me olhava com alguma esperança de aprender algo de útil; já eu olhava para ele como para alguém que não tem nada a temer, nada a perder, todos os caminhos ainda abertos, as peças no tabuleiro ainda praticamente nas casas iniciais.

– Queria saber o que eu sei hoje, mas voltar a ter a tua idade! – Brinquei.

Ele apenas riu, certamente não tinha pressa alguma em alcançar a contagem dos anos que já tenho. Não tinha nada de bobo, aquele jovem!

Mesmo tendo tomado as melhores decisões, com as informações que tinham em cada momento, é comum que apareça essa ideia fantasiosa para muitas pessoas: voltar no tempo, mantendo a vantagem da experiência. Como o enxadrista que, no meio da partida, tendo feito somente as jogadas que quis, fantasia em retroceder alguns lances, pois agora sabe o que antes foi incapaz de prever. É o eterno problema do que se vê e do que não se vê na tomada de decisões.

O rapaz que sonhava com a melhor universidade, somente para depois de anos de esforço, alcançar o objetivo inicial e agora, já homem feito, perceber que aquele não era seu caminho. Ou aquele outro que, envolvido no turbilhão de planos e preocupações com o futuro, não percebe a aproximação duma jovem que poderia ter sido sua cara metade. A moça que não conseguiu se libertar das pressões paternas, abdicou duma formação superior no exterior e agora lamenta não ter sido mais corajosa. Talvez as coisas nem tenham sido assim, nossa memória é falha. Também o tempo tende a tornar importante coisas e fatos que, então, não tiveram tanta relevância. No fundo, em retrospecto, quase todas as decisões poderiam ser melhoradas.

Fica mais fácil de entender a ideia do “eterno retorno”, segundo a qual cada ato se repete indefinidamente, e cada decisão tem o peso da eternidade. Não nos é dado retornar guardando o tesouro da sabedoria adquirida, mas, segundo o “eterno retorno”, é como se pudéssemos voltar infinitas vezes ao ponto que desejarmos, sem lembrar de nada, somente para, racionalmente, tomar de novo a mesma decisão.

O tempo é como o peão no xadrez, ele só avança. Além do mais, na juventude, temos muitos peões, muito tempo, podemos nos dar ao luxo de sacrificar alguns. Chega um momento da vida em que olhamos os peões avançados, os contamos, percebemos que a abundância inicial já se foi, e isso nos traz a nostalgia do que poderia ter sido.

Mas não há somente desvantagens. Os peões avançados estão mais próximos da borda do tabuleiro, já vislumbram uma promoção! Já não se vê tão pouco a frente, e o que não se vê torna-se mais escasso. A cada novo dia, fica mais fácil tomar uma decisão para a qual teremos prazer em retornar infinitas vezes, sem lamento nenhum.

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