Campeonato Brasileiro e a questão das Normas de GM e MI

Encerrou-se ontem a 77ª edição do Campeonato Brasileiro Absoluto de Xadrez. Este ano a prova foi muito forte, contando com 6 GM´s, 2 MI´s e 4 MF´s, contabilizando 12 jogadores da elite enxadrística nacional. Apesar de contar apenas com jogadores brasileiros, a final do campeonato nacional é um torneio que a FIDE reconhece para a obtenção de normas para os títulos de mestre e grande mestre internacionais.
Além de determinar o novo Campeão Brasileiro de Xadrez, definido com uma rodada de antecipação, GM Vescovi com excelente desempenho, invicto com 8,5 pontos em 11 partidas, o interesse também se voltou para a possibilidade de obtenção de normas de GM e MI para aqueles que ainda não possuem um ou outro desses títulos.
O MI Everaldo Matussura obteve a norma definitiva de grande mestre com vitória sobre o GM Fier na 10º rodada, ele fez 6,5 pontos em 10 partidas.
Aqui pode surgir uma dúvida: se o MI Diego Di Berardino também fez 6,5 em 10 partidas, por que não valeu norma de GM?
Bem, a resposta está nas regras da FIDE sobre o tema: ele não atingiu os mínimos critérios ligados ao rating.

No caso do MI Matsuura, para que 6,5 em 10 fosse uma norma de GM seria preciso que, nessas 10 partidas, o rating médio (Rm) dos adversários fosse superior a 2490 (no caso dele foi 2494) e o rating performance (Rp) nessas 10 partidas fosse superior a 2600 (ele obteve 2604).

No caso do MI Di Berardino, esses critérios não foram alcançados: o Rm, em 10 partidas, foi 2466 (inferior aos 2490 necessários), e o Rp foi 2576 (inferior aos 2600 necessários). Mas ele teve outra chance. Caso vencesse o GM Vescovi na última rodada, ele faria 7,5 em 11 partidas, com Rm dos adversários de 2480 (que no caso de 11 partidas é suficiente, pois o piso passa a ser 2467) e seu Rp passaria a 2613, e seria uma norma de GM.
O jovem MF Shumyatsky também passou perto da norma de MI. Na 9ª rodada ele tinha 3,5, o que seria suficiente em 9 partidas, caso os critérios de rating fossem cumpridos (tinha Rm de 2483, mas era necessário ser superior a 2530, e seu Rp era de 2396, sendo necessário ser superior a 2450). Ele também teve outra chance na última rodada. Caso vencesse o MI (agora GM) Matsuura na última rodada, ele passaria a 5 pontos em 11 partidas, com Rm dos adversários de 2494 (superior ao piso de 2486 em 11 partidas) e Rp de 2458 (superior ao piso de 2450) e a norma de MI estaria cumprida.

Bem, como sabemos, as últimas partidas foram empates, e todos esses cálculos de normas ficam apenas para matar a curiosidade de alguns sobre o assunto, assim como a minha. Parabéns a Vescovi por mais um título brasileiro e para Matsuura pelo merecido título de GM.

Só para completar o assunto de normas, coloco abaixo curiosidades e requisitos mínimos genéricos (pode haver variações em competições especiais como zonais, campeonatos continentais e pan-continentais, copa do mundo individual e por equipes, olimpíada e outros desse quilate) para a obtenção de títulos de MI e GM (bem como das versões femininas WIM e WGM): 
  • assim como os títulos no xadrez, a norma vale para a vida toda do jogador;
  • uma norma deve ser conseguida num mínimo de 9 partidas;
  • a pontuação mínima é de 35% dos pontos, ou seja, eu 9 partidas deveria ser 3,15 que é elevado para 3,5;
  • pelo menos metade dos oponentes devem ser titulados (não valem os títulos de ‘candidato a mestre’ para este critério);
  • para uma dada norma, pelo menos um terço dos oponentes tem que ter o título em questão, por exemplo, para norma de GM em 9 partidas, 3 dos oponentes tem que ser GM’s. Para a norma de MI, um GM conta como 1,5 x MI, ou seja, 2 GM’s equivalem a 3 MI’s no cômputo da norma de MI;
  • é necessário ter um mínimo de 27 partidas no conjunto das normas, daí que geralmente são necessárias 3 normas, mas alguns torneios como a Olimpíada, dão direito a norma dita dupla, mas é mais que isso, pois neste caso, uma norma de 9 partidas vale uma norma de 20 partidas;
  • o torneio deve contar com pelo menos 3 federações nacionais representadas, para que um jogador de uma delas possa obter uma norma (a exceção, justamente é a final de um campeonato nacional, porém, para a homologação do título pelo menos uma das normas do jogador tem que ter sido atingida num torneio com um mínimo de 3 federações representadas);
  • para um torneio valer norma de grande mestre, ele deve ser aberto ao público ou, pelo menos, as partidas mais importantes devem ser exibidas em tempo real por algum meio (internet, por exemplo) e, logo ao final do torneio, as partidas todas devem estar disponíveis para verificação;
  • como se não bastasse, além das normas, o jogador precisa atingir um rating em algum momento igual ou superior aos seguintes: 
    • Grande Mestre Internacional  (GM)  2500
    • Mestre Internacional (MI)  2400
    • Grande Mestre Internacional Feminino (sigla em inglês WGM)  2300
    • Mestre Internacional Feminino (sigla em inglês WMI)  2200,
  • o mais interessante é que esse rating mínimo para cada título não precisa necessariamente ser publicado numa lista oficial da FIDE. Basta se provar que em algum momento entre uma lista e outra, ou mesmo no meio de um torneio, o jogador alcançou o mínimo exigido para a homologação de seu título! Claro que fica mais difícil provar, e a FIDE só aceita caso a federação do jogador forneça a documentação com as provas.
Agora que já sabemos os requisitos para as titulações maiores do xadrez, só falta estudar e jogar muito!

Também disponível no blog parceiro Xadrez Natalense

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *